terça-feira, 1 de novembro de 2011

Novas mentalidades... Precisam-se!

Artigo Publicado no jornal Viver a Nossa Terra – outubro 2011

Escuso-me a apresentar as razões pelos quais falamos e ouvimos falar na necessidade de emergirem novas mentalidades pelas náuseas que os motivos e as causas me provocam. No entanto, não posso ficar indiferente aos paradoxos cometidos por muitos que o defendem em nome dos novos tempos, das novas exigências e, sobretudo, das novas dificuldades.

Continuo a não compreender como é que esses senhores, que ganham milhões, continuam a achar que não vemos as coisas e que não pensamos sobre elas.

É quase uníssono nacional a defesa de que o povo português precisa alterar os seus hábitos. Com frequência ouvimos (pseudo)intelectuais que, à custa do nosso dinheiro, conhecem este mundo todo, (e agem como se conhecessem também o outro) remeterem para hábitos quotidianos de outros países da europa como exemplos a seguir por nós.1

De que falo? Falo de coisas muito simples como desenvolver hábitos de mobilidade diferentes do carro particular para deslocações que, aparentemente, não o justificam. Falo por exemplo do cultivo de uma cultura que promova o convívio entre as pessoas na rua, sem terem de andar a sustentar uma sociedade consumista. Falo de práticas como os piqueniques em vez de uma ida ao restaurante, etc, etc.

Agora eu pergunto a esses senhores como querem que andemos a pé ou de bicicleta, sim porque essas são as alternativas muitas vezes apresentadas, se não temos o mínimo de condições para o fazer? E sabem, meus senhores, de que falo? Falo, sobretudo, das vossas medidas de contenção da despesa...

Esperam, certamente, ser aplaudidos ao adotarem esse plano austero, mas enganam-se, aplaudiríamos outras!

Não podemos aplaudir quem não constrói passeios para os peões, mas quer que as pessoas andem a pé! Não podemos aplaudir que essas pessoas que agora aparecem com um discurso angelical digam que não o fazem porque não há dinheiro quando construíam autoestradas em paralelo! Mas afinal cultivaram a utilização dos carros ou promoveram a prática de andar a pé?

Não podemos aplaudir cortes na iluminação pública quando sabemos que isso vai fragilizar a segurança dos nossos lares e atentar à nossa integridade física enquanto utilizadores da via pública! Deixavam os vosso filhos virem a pé da escola numa estrada sem iluminação e sem passeio??? Talvez os faróis dos topos de gama por nós pagos, conduzidos pelos vossos motoristas enquanto falais ao telemóvel, não vos deem oportunidade de pensardes nestas coisas...

Não podemos aplaudir essas medidas quando, paralelamente, observamos construções, remodelações e inaugurações de edifícios públicos com milhares de euros gastos em gigantes condutas de climatização, sabendo vós mesmos, que não haverá dinheiro para por as referidas máquinas a trabalhar, Não teria sido preferível apostar numa construção sólida e térmico-acústica eficaz que alimente a poupança alongo prazo? Não é isso que fazemos nas nossas casas?

Não temos dinheiro? Quem o gastou? Como querem que as pessoas alterem os seus hábitos quando a vossa cultura do betão inviabilizou todas as iniciativas promotoras de hábitos de vida saudável? Vemos os nossos parques infantis às escuras! Vemos os edifícios construídos como se a manutenção dos mesmos fosse para ser pago por um país rei de petróleo!

Incentivam-nos a gozar o que temos cá dentro, a passear pelo que é nosso e até para atravessar uma simples estrada no Gerês, sim património que é nosso, nos obrigam a pagar uma portagem!

Dizem: - É preciso pôr o povo a poupar! Nós não sabemos fazer outra coisa! Experimentem viver com 1.000€ mês e vejam se não necessitam de poupar! Os portugueses não sabem fazer outra coisa!!! Já não falo dos que têm de viver com menos. Nós não estavamos sobre endividados, sim nós, aqueles que produziam neste país. Agora se iremos ficar? Aí já não digo nada! Com as medidas que V. Ex.as estão a tomar... Quem contava com um orçamento de X ao fim do mês e agora se vê privado disso... quem gastava Y nas suas despesas e com os aumentos desmesurados tem de gastar Z... ai agora não sei se o dinheiro em grande parte dos lares vai chegar para todos os compromissos assumidos.

O que querem? Subsídio-dependentes? Nós não queremos depender disso! Queremos trabalhar, ganhar dinheiro, pagar as nossas contas, educar os nossos filhos e ser felizes!

A grande questão para mim é:

Quem gastou, afinal, mais do que o que podia?

Mudar de mentalidade? Quem?

Será que algum, dos comuns dos portugueses recebe subsídios para viver noutra cidade para trabalhar? Sim! Nós queremos é emprego, não subsídios! Haverá alguém, que não seja no exercício de um qualquer cargo público, que, com ordenados de milhares de euros, obtenha recebimentos para ‘representações’ ou subsídios para alugar casa em Lisboa? E pedem-nos a nós que efetuamos os nossos descontos e sustentámos uma carga fiscal insuportável que poupemos?

Mudar mentalidades? De quem?