terça-feira, 27 de setembro de 2011

“DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR”

Artigo publicado no jornal ‘Viver a Nossa Terra’ de Setembro de 2011

Acontecimentos recentes fizeram com que desse por mim a pensar no paradoxo causado por algo que sempre defendi – AUTOMONIA.

Enquanto educador sempre vi neste comportamento o objeto último da educação e daquilo que constituía a competência que eu queria ver concretizada em cada um dos meus alunos. Como pai é exatamente esse o meu anelo!

Quanto me vejo à frente de um projeto deparo-me com a mesma aspiração – AUTONOMIA. Quando esta não existe vejo castradas muitas das minhas ideias e inviabilizados alguns dos meus anseios, pois, o sistema não permite…Autonomia

No entanto, dou por mim a pensar: - Mas afinal quem é que tu conheces que conquistada essa autonomia ou tendo-a recebida de forma gratuita, consegue fazer uma boa gestão da mesma?

Para mim boa gestão da mesma é pôr esta ao serviço para o qual foi gerada. Se pensarmos na origem da autonomia, geralmente, está o ideal de se servir melhor alguém, de dar uma resposta mais ágil e em tempo útil às necessidades de um grupo.

O antónimo de autonomia é a dependência, quer seja de uma pessoa, estado ou nação. Mas seguindo o raciocínio da gestão da autonomia como forma de dar melhor resposta e descentralizar para humanizar… aí está o âmago da questão…

Se olharmos com um olhar atento para a gestão desta quer ao nível macro, meso ou micro vamos ver que o descontentamento nos assombra a perspetiva. Alguns poderão pensar que o reflito só por causa do lugar que se questiona para Portugal dentro da economia da Comunidade Europeia, ou por causa dos acontecimentos recentes na Madeira, ou de gestão autárquica levada a cabo por alguma fação, ou até mesmo pelos acontecimentos recentes que colocam os diretores das escolas de costas voltadas para o ME por causa das colocações de professores, a ver-se pelas manifestações marcadas para os próximos dias.

Não, faço-o por tudo isso. – Sabem porquê? Porque vejo muitas vezes a autonomia a servir para tudo menos para ser o agente ativo da voz do comum cidadão. Sim, esse que motivou o poder central a delegar funções e poderes. O que vejo é um conjunto de pessoas a servirem-se dessa autonomia para iniciarem o ditado ou o monólogo, daquilo que se pretendia que fosse uma forma, mais próxima, de se conseguir um bom e frutuoso diálogo.

Porque é que até a dita autonomia ser conquistada nós agimos em grupo, como equipa, de forma dialogante, cooperante e depois… é um autêntico Triunfo do Porcos?

Será que o cidadão não era mais ouvido quando o poder central detinha o poder de decidir sobre certos assuntos? Pelo menos sei de uma coisa, podia não ser ouvido, mas pelo menos os pares falavam, agora não o podem fazer porque quem tem de os ouvir está demasiado perto…

Não gostávamos que a União Europeia não deixasse Portugal chegar ao ponto que chegou? Não gostávamos que o estado tivesse impedido que os bancos possibilitassem o endividamento das famílias? Não gostávamos que o estado auditasse e regulasse as contas da Madeira? Concordamos que numa oferta de emprego em que existe uma lista de graduação uma escola só porque se chama de TEIP possa colocar regras em que a única que parece válida é a de não existir ética, verdade, transparência e justiça? E é neste paradoxo que penso, autonomia, antítese de dar voz ao desconhecido para ligar os holofotes aos mesmos… Dai a César o que é de César…

Com que direito é que o dinheiro de todos serve os interesses de alguns muito particulares? Sim, é disso que se trata, do direito de todos face aos interesses de alguns! É de promiscuidade que se trata! É o mandar de forma cega, contra tudo e todos, sem ter ouvido nenhum. É de um em vez do colegial. Resultado? Mudam-se os tempos… mudam-se as vontades.

Não se trata, para mim, de se sair à rua e incendiar lojas ou carros como está a acontecer na Grécia, mas acho que se trata de todos lutarmos por aquilo que são os nossos direitos e esses não os pedirmos nem mendigarmos de joelhos, mas exigirmos com todas as nossas forças!

Trata-se de fazermos com que a democracia seja exercida. De travarmos as pequenas tiranias e autoritarismo que são, muitas vezes, o motivo do nosso desconsolo, aquilo que nos vitima de forma mais mordaz, pois é a mais letal pela proximidade e, por isso, a mais eminente e cujos efeitos são instantâneos. Talvez esse seja o grande trunfo dos tiranos… por serem instantâneos e imprevisíveis, na maior parte das vezes, deixam-nos sem resposta.

Meus amigos, lembrem-se de quem os colocou no lugar que ocupam… para que é que foram delegados ou eleitos… e… “Dai a César o que é de César” Mt 22, 21.

2 comentários:

manuelsantosoliveira disse...

Aprecio muito esta tua reflexão pelo sentido de oportunidade de nos fazer pensar em situações que vão ocorrendo a que por vezes não damos atenção. Nunca gostei de sentir a tirania mesmo disfarçada de democracia. É que uma coisa são as instituições outra o espírito com que agimos a coberto das mesmas. Para bom entendedor... Para quem o não for... tudo continuará em paz podre.

Miguel Maia disse...

É isso mesmo amigo ;)